Começou em 2015…
Na época, o governador de São Paulo tinha um projeto para reorganização escolar, o qual milhares de alunos secundaristas não concordaram. Foi a primeira vez em que vi jovens num papel transgressor, autônomo e revolucionário, indo atrás de seus direitos. Centenas de escolas públicas foram ocupadas, como um grito de insatisfação. Junto de alguns amigos, ocupei a minha.
Foram 3 semanas de ocupação:
20 jovens.
Muitos medos.
1 objetivo.
1 conquista.
E não estávamos sozinhos, foram mais de 800 escolas ocupadas no Brasil.
Depois das ocupações, o desejo por transformações só crescia.
O mentor da Jornada X, Edgard Gouveia Jr. procurava por jovens que haviam participado das ocupações das escolas públicas de São Paulo, quando conheceu meus amigos e eu e nos apresentou a Jornada X.
Foi na Jornada X que encontrei bases, ferramentas e pessoas doidas e corajosas o suficiente para realizar mudanças. Nosso grupo em geral morava no Capão Redondo, Zona Sul, periferia da capital paulista, logo buscamos transformar os espaços que ocupávamos, com foco na favela, na juventude e na infância, tendo ações sociais, culturais e artísticas como pilares.
Acreditávamos (e acredito!) no “trabalho de formiguinha”, onde aos poucos a mudança seria feita. Fosse em nossa casa, nossa rua, nossa escola, nosso bairro, nossa cidade, nosso estado, nosso país… É algo que se propaga, que cresce de dentro para fora. Um coração pulsante. Muitas pessoas viam nossas ações e juntas somavam, levando ideias e inspirações para outras pessoas, e é aí que a ideia e a coragem para a transformação se propaga, numa corrente. Mudar o mundo em comunidade é mais divertido, acreditem.
Com a junção das vivências na ocupação, na Jornada X e nas ações sociais, realizadas com a Micheline Farias e o Bruno Capão (empreendedores sociais, fundadores da N.A.V.E. Capão), enxerguei o momento para realizar um sonho de 2015: ser educadora social. Educar abrindo caminhos, portas, janelas e portais para que crianças e adolescentes possam sonhar e crescer com liberdade e autonomia.
Olhando para trás, vejo que toda a bagagem que juntei ao longo da Jornada X me serviu e ainda serve como base, para acreditar e esperançar a educação popular brasileira e periférica. Hoje, sou artista e educadora social na N.A.V.E. (Núcleo de Acolhimento e Valorização da Educação), e todo dia enxergo nos olhos das crianças, futuros jovens transformadores, autônomos e revolucionários.
Gabriela Cassia, 23 anos.
Artista, educadora social e coordenadora pedagógica dentro da N.A.V.E. Capão.