Jornada X e a Educação para Melhorar o Mundo
Uma aventura além da imaginação
“Imagine ler ou ouvir a respeito do seguinte decreto, promulgado pelo Departamento ou Ministério da Educação de um país ao término de um ano escolar: ‘No próximo ano, a educação [em nosso país] será completamente nova e diferente. Não irá girar ao redor de matérias, conteúdos programáticos e notas. A educação será norteada pelo propósito de – e somente de – melhorar o nosso país e as nossas comunidades.’
Ao longo do ano, alunos e professores concentrarão todo o seu foco e esforços em uma série de projetos para o mundo real – projetos que farão de nosso país um lugar melhor de alguma forma.
Não definiremos ou criaremos esses projetos – os alunos e professores serão responsáveis por isso. Alguns podem fazê-lo na forma de aulas, outros como equipes de alunos e professores dentro e fora das aulas – e, quando possível, até mesmo em âmbito nacional. Para serem aprovados e receberem o sinal verde que lhes dará permissão para seguir em frente, os projetos precisarão atender a apenas um único critério: “Mostre-nos como isso irá melhorar algum aspecto de nosso país”.
Cada projeto criará seus próprios objetivos, que podem variar desde melhorar a aparência, as funções e atividades de um bairro, incrementar a infraestrutura de uma comunidade, preservar parte da história e patrimônio de nosso país, ajudar o governo e os agentes reguladores locais, melhorar a vida dos menos favorecidos, construir novos relacionamentos entre pessoas em comunidades reais (e on-line), adicionar ou aperfeiçoar a tecnologia, entre outras boas ideias – pelo menos é essa a nossa esperança. Os únicos limites são a criatividade, inventividade e desenvoltura das equipes. Os projetos podem durar semanas (por exemplo: “Vamos transformar esse terreno descuidado em uma horta comunitária”), ou meses (por exemplo: “Vamos criar a melhor rede Wi-Fi do país em nossa escola e/ou bairro”), ou o ano inteiro (por exemplo: “Vamos parar ou diminuir o aumento de casos de algumas doenças em nossa comunidade”). Os alunos podem se envolver em diversos projetos ao longo do ano e cada um deles será baseado inteiramente na aplicação das paixões dos membros da equipe em ajudar o país da maneira que julgarem melhor. Será preciso produzir resultados positivos e avançar em direção ao cumprimento de suas metas fundamentais para o ano. As equipes podem ser orientadas por professores, por alunos ou por ambos. As equipes podem recrutar o setor privado, atrair o interesse de órgãos e instituições do governo ou de organizações não governamentais (ONGs) como parceiros, de maneira criativa.
Todos os alunos e professores do nosso país devem participar. Haverá pouca estrutura e regulamentação – contamos com a criatividade de nossos alunos e professores para organizar o programa de projetos e fazê-lo dar certo. Apenas diretrizes mínimas serão promulgadas. Todos agora têm as férias inteiras para pensar a respeito. No final do primeiro mês letivo, esperamos que todos os professores e alunos tenham criado a sua primeira equipe ou realizado a sua inscrição em alguma, de modo a dar início aos projetos.
Criaremos um site para acompanhar o andamento de todos os projetos e assegurar que todas as escolas possam acessá-los por meio de um computador ou celular. Os projetos concluídos serão avaliados por votação on-line, conforme os seguintes quesitos: (1) é algo que melhorou o país (esperamos que quase todos atendam a esse requisito); (2) é algo que tornou o país excepcionalmente ou extraordinariamente melhor (talvez 10% dos projetos); e (3) é um projeto que não conseguiu melhorar o país, com recomendações sobre como alterá-lo para que se torne viável (esperamos que esse número seja bem pequeno).
“O lema dessa iniciativa – e a missão educacional do nosso país para o próximo ano letivo – será este: Você pode tornar nosso país um lugar melhor – surpreenda-nos com quanto você (e nós) pode realizar.”
Essa é a provocação de Marc Prensky, escritor americano, palestrante e estudioso da área de educação e criador, em 2001, do conceito “nativos digitais” para designar as pessoas que nasceram após 1997 e que muito cedo tiveram e têm acesso aos meios digitais. Em seu livro recentemente lançado no Brasil com o título de “Educação para um mundo melhor – Como estimular o poder das crianças e jovens do século XXI”, Prensky faz uma defesa veemente da necessidade da transformação da educação para essa nova era, em que crianças e jovens acessam informação em todos os lugares, incluindo seus jogos e vídeos nas redes sociais.
Noutro ponto do livro, Prensky destaca:
“Crianças e jovens precisam, agora, de uma educação que seja muito mais conectada e real do que era no passado – que propicie não apenas conhecimento, mas que também os empodere. Eles precisam de uma educação cujos objetivos não sejam apenas melhorar a si mesmos, mas, antes, melhorar o mundo em que vivem.”Os contornos dessa nova e melhor educação estão surgindo. Em seu cerne, trata-se de uma educação cujo propósito é empoderar crianças e jovens a melhorar o próprio mundo, começando quando ainda são estudantes.”
A JORNADA X EM AÇÃO
Mas como propiciar essa educação às crianças e aos jovens, usando o que eles vêm aprendendo e experimentando no espaço potencial do mundo virtual e transportando para a vida real?
Esse foi o desafio ao qual Edgard Gouveia Jr., especialista em jogos colaborativos, se propôs há mais de dez anos. Ele resolveu usar o brincar das crianças como forma de fazer de seus ambientes um tabuleiro para que eles pudessem, brincando, transformar a realidade do mundo real onde vivem. Sempre em times ou ligas elas buscam um problema real e, sob a supervisão dos Mestres (Game Masters), discutem as possíveis soluções e as implantam com a alegria do brincar (FUN), com a rapidez que só os jovens conseguem imprimir (FAST) e sem botar a mão no bolso (FREE). Os resultados dessas aventuras, que começam no virtual e terminam na vida real, têm sido extraordinários (FANTASTIC).
Assim surgiu a Jornada X e a filosofia dos 4 Fs: FUN, FAST, FREE e FANTASTIC – uma forma brasileira de educar, derivada das gincanas, dos carnavais, das festas juninas, em que toda a comunidade se envolve, agora liderada por jovens especiais, os “nativos digitais”, novos super-heróis que com seus superpoderes criam um sentimento de comunhão capaz de convencer o mais resistente dos adultos a ajudar. Os jovens que embarcam na nave para a aventura da Jornada X aprendem a colaborar e a trabalhar em equipe, a diagnosticar problemas, a planejar soluções e a agir na criação do mundo de seus sonhos. Sairão do ensino médio conscientes de suas habilidades e competências socioemocionais, acostumados às agruras do fazer acontecer. Sairão cidadãos responsáveis e preparados para viver, construir suas realidades e motivados em seus propósitos. Sem dúvida serão profissionais mais preparados para a ação.
Prensky, em seu livro, dá todos os argumentos para que a Jornada X e a educação seja um novo paradigma e possa, rapidamente e com o apoio dos Mestres, dar aos nossos jovens a autonomia e consciência socioambiental necessárias à regeneração do planeta e à reconstrução da nova era pós pandemia.
Que tal criarmos, a partir da provocação de Prensky, um manifesto a favor da transformação da educação no Brasil, reforçando a implementação de forma efetiva das diretrizes pedagógicas já alinhadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e nas atuais políticas públicas, estabelecendo como objetivo final a Educação para Mudar o Mundo, através das crianças e dos adolescentes.
Para conhecer melhor a Jornada X acesse: https://www.jornadax.org/
Artigo anterior: Jornada X: Módulo 12 – Consumo e Produção Responsáveis