Foram mais de dois anos de isolamento social. Uma experiência nunca experimentada pela humanidade. E, se o homem é um ser social, deixamos nossa “humanidade” de lado por mais de dois anos.
Agora que retornamos ao convívio social, estamos vivendo tempos estranhos. Parece que passamos por um processo de “regressão socioemocional”, voltamos à idade da pedra do egocentrismo.
A violência, a desagregação de famílias e comunidades, o extremismo, o retorno da guerra, a exacerbação dos preconceitos, o abandono escolar, parece que voltamos à estaca zero do que chamávamos de civilidade e respeito aos direitos humanos.
Não basta roubar: matar-se a vítima com vários tiros ou facadas. Mulheres são assassinadas pelos seus “companheiros” – se é que podemos chamar assim quem mata uma companheira – depois de serem espancadas. Crianças e adolescentes brigam nas escolas pelos motivos mais tolos, chegando a agressões físicas e ameaças de morte. E o pior: crianças e adolescentes que explodem essa violência contra si mesmos – suicidam-se por não se sentirem acolhidos ou por se considerarem rejeitados.
Estamos diante de uma grave epidemia de “regressão socioemocional”, contra a qual não estamos investindo nem inteligência nem recursos para cessar e, depois, preveni-la.
É urgente uma reeducação socioemocional de crianças, jovens e adultos. Ela precisa de um processo inovador de comunicação em todas as mídias, nas escolas, nas organizações, nas comunidades, nas famílias, onde a busca de entendimento, empatia e gratidão estejam presentes em todas as relações pessoais.
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Precisamos enfatizar as coisas boas que estão acontecendo no mundo – e que são maioria – sem deixar de informar o que acontece de ruim, que normalmente é exceção, e como exceção deve ser tratada.
Foram muitas as tristezas durante o isolamento social. As pessoas que perderam entes queridos precisam vivenciar esse luto. As pessoas que perderam seus empregos precisam juntar forças e voltar à luta. Aquelas que perderam seu lar e foram morar nas ruas precisam buscar ajuda para recomeçarem a reconstrução de suas vidas. Mas isso deve ser feito sem o cultivo de ódios e rancores. Parece que perdemos a competência de nós simpatizamos com outras pessoas, de fazer a elas o que gostaríamos que fizessem a nós.
Precisamos voltar a contemplar o belo, sorrirmos juntos, trabalharmos juntos e, porque não, voltarmos a brincar juntos.
Que as artes, os esportes e as crianças nos ajudem!